O Consolador: Que lições você pode relatar acerca dessas atividades?
Destaco a excelência da concepção espírita de provas e expiações, porquanto constatamos dramas expiatórios importantes, enquanto favorece à caridade amplo terreno para realizações nobilitantes. Em face disso, identificamos a necessidade de reeducação, certos de que a maior caridade que se pode praticar é reeducar o ser. Recentemente, em uma segunda-feira, eu visitava cada uma das salas, para ver as crianças, abraçá-las, conversar com as educadoras. Na sala das crianças menores, de dois e três anos de idade, um menino, visivelmente abatido, estava no colo de uma das educadoras, que media sua temperatura com termômetro. Estava com febre, e reclamava com os seguintes dizeres: “Eu quero meu vovô”. Ele é muito ligado ao avô, sua referência paterna em casa. Pensamos que se tratava de desencarnação. Porém, soubemos que o avô estava preso, acusado de determinado delito. A Instituição prestou todos os cuidados compatíveis à criança. Tive a oportunidade de refletir com as educadoras que o mal que praticamos irradia-se como a bomba atômica que produz o cogumelo de efeitos devastadores. Todos que rodeiam o autor do mal sofrem. Aquele senhor, com a prática do mal, atingiu toda a família, feriu a sociedade. O Consolador: Sua atuação no Movimento Espírita destaca-se pelas intensas atividades doutrinárias, especialmente no tocante a palestras e seminários. Qual é sua motivação para realizá-las?
Desde a infância tenho fascínio pelo Espiritismo. Quando a professora de ensino religioso na escola pública em que eu estudei afirmava que Espiritismo não era religião cristã, eu rebatia com disposição. Um dos episódios marcantes de minha existência, do qual sempre me recordo com satisfação, foi quando deixei as reuniões de evangelização (estudo do Espiritismo para as crianças) e me inscrevi no Grupo Jovem, aos treze anos de idade. Uma motivação interna irresistível a mim me impulsiona a servir o ideal espírita. Um amigo estranhou quando soube que não sou (e nenhum trabalhador espírita) remunerado para trabalhar na divulgação da doutrina. E se me perguntam o porquê dessa dedicação, não preciso fazer um discurso para justificar. Apenas digo: “Porque esse trabalho me deixa feliz”.
O Consolador: Fale-nos do movimento espírita em sua cidade e no Estado de Santa Catarina.
Florianópolis tem um Movimento Espírita dinamizado por 25 instituições filiadas, 18 localizadas na ilha e 7 no continente. Algumas instituições não se encontram filiadas; dentre elas há as que logo providenciarão a solicitação de adesão à Federação Espírita Catarinense. Em todas as Casas a freqüência é excelente, com demonstração viva de que a Doutrina Espírita satisfaz os anseios da criatura humana. No Estado, temos 130 Centros Espíritas filiados. O Estado é organizado com o formato de 16 Conselhos Regionais (CRE), que facilitam a sintonia da Federação com as instituições. Atividades regionais e de nível estadual se pluralizam para melhor equipar os trabalhadores espíritas de estímulos e qualificação no desempenho de nossos misteres.
O Consolador: Como foi sua gestão à frente da Federação Espírita Catarinense?
O três anos de mandato que desempenhei no cargo de presidente da Federação Espírita Catarinense foram muito importantes, pela experiência que me proporcionou. Posso dizer que hoje me encontro mais forte interiormente para o enfrentamento dos desafios existenciais, porque as dificuldades que enfrentei foram austeras. Se os pioneiros do Movimento Espírita tiveram que enfrentar a intolerância religiosa, hoje os desafios encontram-se no âmbito do próprio movimento. Contudo, tive a honra de mais uma vez servir ao ideal que abençoa minha vida. Focamos a preparação do servidor espírita: palestrantes, evangelizadores, monitores de grupos de estudos, médiuns, atendentes fraternos, enfim, procuramos contemplar o leque de serviços que a Casa Espírita disponibiliza à comunidade, com atenção especial a quem executa as tarefas, qualificando-o doutrinaria e tecnicamente.
Duas lições ficaram bem caracterizadas para mim, enquanto estive na presidência da FEC: que o conhecimento é indispensável a quem deseja servir à causa do Cristo. Estudar sempre deve ser o lema individual de nossa condição de servidores. O conhecimento espírita nos auxilia a compreender, entender e praticar as leis de Deus. O conhecimento espírita não se satisfaz com breve exame. O que destaco, ao lado do estudo, é a vivência do bem em todas as situações. No contexto do nosso Movimento, o espírito de cooperação, de solidariedade e desprendimento, para que sejamos úteis e assertivos. Movimento Espírita não se coaduna com disputas, rancores, nem se adapta a facções, partidos, disputas pelo poder. O Movimento Espírita só perde com tudo isso.
O Consolador: Como o amigo tem encarado os temas polêmicos que circulam atualmente no Movimento Espírita?
Observo com tranqüilidade, certo de que são ocorrências próprias de um Movimento que, por ser humano, é portador das qualidades e equívocos inerentes ao ser humano que ainda se encontra nas pelejas evolutivas. O que é importante é a permanência segura em nossos postos de serviços, conscientes das tarefas que devemos desempenhar à luz do Espiritismo, com humildade, desprendimento e hábito de estudo. Sempre que os temas polêmicos parecem ameaçar a integridade do venerando Movimento, tenho permanecido sereno e imperturbável no estudo e na vivência das rigorosas diretrizes da Codificação, sem receio, e sem contra-atacar, o que mais inflama os que, presunçosos, pretendem introduzir na seara concepções e técnicas estranhas.
Nosso Movimento tem demonstrado, apesar das dificuldades, suficiente maturidade para não conceder espaço às novidades não-espíritas, mas que pretendem impor. Nas reuniões do Conselho Federativo Nacional, na FEB, tive a alegria de constatar que todas as federativas estaduais encontram-se inquebrantáveis diante de propostas intrometidas. A FEB realiza admirável trabalho, assumindo a liderança mundial de divulgadora do Espiritismo no mundo, exaltando a Codificação Kardequiana através do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita.
O Consolador: E os temas polêmicos que envolvem a sociedade, como a descriminalização do aborto, têm sido objeto de debate nos círculos de estudos?
Os temas polêmicos existentes na sociedade, que preocupam educadores, sociólogos, autoridades e legisladores, são muito importantes, porque respondem pelo comportamento social. O aborto, por exemplo, é tema grave. Recentemente tivemos a alegria de acompanhar o afastamento de uma tentativa de descriminalizar sua prática no Congresso Nacional. Outras tentativas serão feitas por legisladores, pressionados que são por determinadas entidades que fazem o lobby na intimidade do Congresso. Essas questões nos preocupam em face das conseqüências de práticas como o aborto, a pena de morte, a eutanásia e as pesquisas com células-tronco embrionárias sem considerar critérios de bioética.
A sociedade ainda vive os estertores da ignorância acerca da origem, natureza e destinação espiritual da criatura humana, por isso pretendem, com o raciocínio apressado e as conclusões imediatistas, obter licenças para permanecer nas condutas viciosas, extravagantes e egoístas.
Segundo os Espíritos, a Doutrina Espírita tem por missão a regeneração moral da humanidade. A tarefa de divulgação e vivência de seus postulados pelos espíritas é o meio pelo qual se alcançará superior objetivo. Por isso, devemos permanecer nos estudos do conhecimento que enriquece o pensamento e na prática que enobrece o caráter.
O Consolador: Como é ser advogado e espírita?
O Espiritismo ajuda toda e qualquer atividade. O profissional com o conhecimento espírita desempenha sua tarefa compenetrado de sua missão no mundo. Tive a oportunidade de atuar como liberal durante três anos, e fiquei assustado com alguns clientes, e não foram poucos, que chegavam com uma causa, mas traziam sugestões de providências contrárias à lei e à ética-moral. É evidente que rechacei todas as propostas. Certo dia, antes de entrarmos para uma audiência judicial, a testemunha que eu acompanhava perguntou-me: - O que devo falar? E eu lhe respondi: - A verdade. Responda com tranqüilidade a tudo o que o magistrado perguntar, sem receios.
Surgiu a oportunidade de prestar concurso público, através do qual ingressei no serviço público estadual, e nesse âmbito se enfrentam novos desafios. A vida é assim, um desafio após o outro. Quem é beneficiado com o conhecimento espírita e decide ser cumpridor de seus deveres, com austeridade ético-moral, em qualquer profissão, terá condições de colaborar com um mundo melhor para se viver.
O Consolador: Suas palavras finais.
Gostaria de enfatizar que o espírita é portador do mapa do tesouro, que tem indicações claras de como chegar ao baú repleto de jóias que tornam a criatura rica. Acontece que essa riqueza é o conhecimento que rasga os horizontes da mente para o encontro com a verdade, que, uma vez incorporada ao patrimônio intelecto-moral do ser, transforma-o no trabalho e no amor. Enriquecidos, felizes com essa conquista, tornamo-nos divulgadores desse mapa, para que todos se beneficiem. Problemas, dificuldades, sofrimentos, são nossos acompanhantes disciplinadores, para coroar de méritos todo o empenho de servir desinteressadamente.
O Consolador
Revista Semanal de Divulgação Espírita
Obs.: O livro A Procura do Espírito foi o último lançamento de Gerson Tavares.